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Terapias gênicas: entenda o que são

Terapias gênicas podem ser aplicadas em várias doenças

Com os avanços da medicina, surge um procedimento capaz de introduzir genes funcionais no interior das células, capaz de tratar doenças como Parkinson, Leucemia, cegueira e até transtornos do espectro autista. São as terapias gênicas, que chegaram como uma alternativa inovadora de tratamento.

A tecnologia apresenta expectativas para os profissionais de saúde com estudos cada vez mais satisfatórios e uma esperança para muitos pacientes que esperam por uma cura.

Terapias gênicas: o que são?

As terapias gênicas utilizam técnicas de DNA recombinante para substituir ou manipular os genes disfuncionais ou inativos responsáveis pelos problemas de saúde. Essa abordagem permite a introdução de genes terapêuticos ou de interesse no organismo, proporcionando tratamentos eficazes e, em alguns casos, até mesmo a cura de diversas doenças.

De uma maneira mais simples, pode-se dizer que as terapias gênicas são a troca de genes doentes por genes saudáveis. O tratamento com transferências de DNA pode trazer alívio dos sintomas de várias doenças, levar a cura e até mesmo evitar muitos problemas de saúde.

Cenário das Terapias gênicas no Brasil

Nos Estados Unidos, os estudos com terapias gênicas começaram em 1989, em uma menina de quatro anos de idade que sofria de uma doença genética causada por deficiência da enzima adenosina. Em 1990, foi registrado o resultado bem-sucedido deste caso.

Os Estados Unidos realizou o primeiro teste clínico em 1990. Entretando, o Brasil autorizou o primeiro procedimento utilizando transferência de DNA somente em 2020.

Desde então, as terapias gênicas têm ganhado espaço na medicina do país. Inicialmente, foram aplicadas em Doenças Hereditárias da Retina causadas por mutações do gene RPE65, que levam à perda da visão. Posteriormente, foram usadas para tratar pacientes com atrofia muscular.

Recentemente, em 2022, a Anvisa autorizou o primeiro produto de terapias gênicas para tratamento em pessoas com câncer.

Como são feitas as terapias com DNA

As terapias gênicas podem ser realizadas de duas maneiras diferentes, dependendo do caso específico. Na abordagem ex vivo, os cientistas modificam células isoladas em laboratório e, posteriormente, reintroduzem-nas no corpo do paciente.

Já na abordagem in vivo, os genes são inseridos diretamente nas células do paciente, geralmente através de vetores virais, plasmídeos ou nanoestruturados, que funcionam como “veículos” para auxiliar a entrada do DNA nas células.

Tanto para a forma em ex vivo quanto para a in vivo é necessário um vetor, que nada mais é do que um “veículo” para auxiliar a entrada do DNA nas células. Os três principais são: Virais, Plasmídeos e Nanoestruturados.

Os Vetores Virais são feitos através de vírus manipulados para serem apenas funcionais e levarem o material genético para a célula. Os Plasmídeos, por sua vez, são usados através de pequenos segmentos de DNA e, por último, os Nanoestruturados por meio de polímeros.

O tratamento com terapias gênicas pode causar alguns efeitos colaterais, mas os benefícios são considerados toleráveis em comparação.
Nesse sentido, alguns pacientes apresentaram alterações consideradas leves como: dor ou inflamação leve no local da injeção, dor de cabeça, febre baixa e sintomas semelhantes a uma gripe.

Quais doenças as transferências de DNA podem tratar?

Felizmente, com o progresso nos resultados de estudos com terapias gênicas, já são inúmeras as possibilidades que podem mudar a vida de muitas pessoas com os tratamentos. Desde doenças hereditárias, multifatoriais, câncer e até para condição neuropsiquiátrica. Veja quais são elas a seguir.

Doenças hereditárias e raras

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem 8 mil doenças raras conhecidas, que atingem 65 pessoas a cada 100 mil habitantes. Somente no Brasil, calcula-se que até 15 milhões de pessoas sofrem com a condição.

Un único gene podem causar as doenças hereditárias. Por isso, as chances de cura com tratamento de terapias gênicas são ainda maiores. Entre essas, podemos citar casos de Hemofilia e a Distrofia Hereditária da Retina (DHR), que causa a perda da visão e está associado a mutações no gene RPE65.

Semelhantemente, a revista Journal of Experimental Medicine publicou um experimento científico chinês, em março de 2023. O estudo liderado pelo cientista Kay Yao, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Wuhan, teve grande êxito e foi realizado com cobaias submetidas à uma variante da técnica CRISPR de edição de DNA para corrigir um gene defeituoso.

Os camundongos usados na pesquisa tinham um tipo hereditário de cegueira e foram geneticamente modificados para portar essa mutação. Dessa forma, o procedimento tinha como objetivo prevenir a perda da visão ou recobrar parte dela entre aqueles que já haviam perdido.

Doenças multifatoriais

Causadas pela mutação de diferentes genes, ou por influência de hábitos do indivíduo ao longo da vida, as doenças multifatoriais, como o Parkinson, entram na lista das terapias genéticas.

Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 200 mil pessoas sofrem com o mal de Parkinson no Brasil. No entanto, conforme os pesquisadores avançam nas pesquisas genéticas, mais meios de combater a doença estão surgindo.

A princípio, os estudos focam na autorregulação da produção de dopamina, neurotransmissor responsável pela mensagem entre as células nervosas. Eles apresentam queda intensa em pacientes com a doença de Parkinson.

Nesse sentido, um grupo francês estuda a injeção direta de material genético em estruturas cerebrais relacionadas à doença. Dessa forma, este DNA carrega informações correspondentes a três enzimas (TH, CH1 e a AADC) incluídas na produção de dopamina.

Desse modo, as células do cérebro desses pacientes serão capazes de produzir a substância nas quantidades certas, levando alívio dos sintomas da Doença de Parkinson e, assim, possibilitando até mesmo a eliminação de medicamentos. Portanto, caso os resultados desses estudos sejam satisfatórios, finalmente haverá a esperança real para a cura da doença.

Hipertensão Arterial Sistêmica – HAS

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) entra na lista para futuras doenças curáveis com tratamento de transferência de DNA. Alguns pesquisadores já estão aplicando terapia gênica para a doença aqui no Brasil.

O Incor (Instituto do Coração) publicou informações na USP de que duas estratégias de manipulação gênica podem ser utilizadas na reversão da HAS. São elas: a inserção de genes, que levam a expressão de substâncias vasodilatadoras ou a inibição de genes codificadores de substâncias vasoconstritoras.

Câncer

Com a terapia CAR-T Cells há a possibilidade de usar as próprias células do paciente para agir em alvos específicos. Dessa forma, células de defesa do organismo são extraídas e manipuladas para combater o câncer. Em seguida, são injetadas de volta no paciente.

Por enquanto, os cânceres hematológicos, como leucemias e linfomas são o principal foco dessa tecnologia. No Brasil, a Anvisa já aprovou o produto de terapia gênica de células T de receptores de antígenos quiméricos (CAR), conhecidas como “células CAR-T”, o Kymriah® (tisagenlecleucel), da empresa Novartis Biociências S.A. No entanto, vale lembrar que a autorização foi realizada recentemente, em 2022.

Condição neuropsiquiátrica

Em 2022, pesquisadores da Unicamp testaram métodos de terapia gênica para condição neuropsiquiátrica. Cientistas dos Estados Unidos e do Brasil realizaram o estudo, no qual aplicaram a terapia gênica para TCF4.

O TCF4 é o gene associado a várias condições neurológicas e psiquiátricas, como a Síndrome de Pitt-Hopkins, Esquizofrenia, Depressão, Estresse pós-traumático e Transtornos do espectro autista (TEA). Felizmente, os pesquisadores apresentaram resultados favoráveis relativos ao estudo, em um artigo publicado no Nature Communications.

Contribuição das terapias gênicas para o futuro da medicina

As terapias gênicas representam uma grande perspectiva para o tratamento de doenças genéticas no Brasil e no mundo. Entretanto, é importante investir em pesquisa e capacitação de profissionais para avançar nessa área. A chegada das terapias gênicas abre possibilidades para a saúde. Mas é necessário garantir recursos e infraestrutura para que elas se tornem uma realidade no tratamento dos pacientes.

O presidente e fundador da Casa Hunter, Antoine Daher, dedica-se à busca de melhores condições de vida para pacientes com doenças raras. Ele afirma o seguinte: “Temos menos de 300 geneticistas no Brasil, o que é insuficiente para atender todo o país”. Antoine Daher concorda que a chegada das terapias gênicas abre possibilidades para a saúde, mas questiona se o sistema continuará deficitário ou será renovado.

Sob o mesmo ponto de vista, o professor e doutor, José Eduardo Krieger, que coordena o Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular, desenvolvendo estudos na área da hipertensão arterial do Instituto do Coração (InCor-HC/FMUSP), também mostra uma certa insegurança.

Em suma, Krieger considera o mundo da terapia gênica como sendo fascinante, mas com algumas limitações. Desse modo, ele acredita que muitas pesquisas ainda precisam ser feitas para que as transferências de DNA possam se tornar uma realidade no tratamento dos pacientes.

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